Willeke van Staalduinen, AFEdemy, Academy on Age-Friendly Environments in Europe B. V.
No projeto SDD (Smart for Democracy and Diversity), desenvolveremos os cenários do jogo educativo baseados nas histórias de vida de pessoas que se sentem ou são discriminadas.
Hoje continuamos com Marion, filha de um casal português em que a mãe é de etnia cigana. Marion vai contar-nos mais sobre a discriminação e o discurso de ódio que vive.
Conheça Marion
Marion vive em Coimbra, Portugal. Tem 61 anos e já tem bisnetos. A mãe de Marion é de etnia cigana, por isso, ela orgulhosamente mantém muitos hábitos ciganos, embora, por exemplo, não na forma como se veste. A família da mãe é de Lisboa e todos os seus parentes ciganos naquela cidade têm trabalho, nomeadamente na indústria, e estão socialmente bem integrados. Marion sente que em Coimbra a comunidade cigana não está unida; Porto, Lisboa, Leiria são realidades diferentes, em que os grupos se mantêm unidos e realizam muitas iniciativas relacionadas com as suas tradições. Em Coimbra tem mais amigos de outras etnias que não a cigana.
Desde 2008, a Marion tem estado envolvida em vários projetos de inclusão, como o CriArte; neste contexto, trabalhou durante um ano e meio e, no período restante, recebeu bolsas de formação ou subsídios. Só fez descontos para a Segurança Social durante um período em que fez limpezas domiciliárias e, depois, durante um ano e meio trabalhou na Cáritas. O marido vende pastelaria numa roulotte, mas a pandemia tornou o negócio muito difícil.
Quando os filhos eram jovens, sentia muita discriminação.
Por exemplo, uma vez no Hospital Pediátrico, havia muita gente e a filha tinha febre alta e estava a vomitar. Quando ela disse que estava a demorar muito tempo e a filha estava muito doente, a senhora da secretaria disse “vocês ciganos têm o hábito de chegar aqui e acham que têm de ser tratados imediatamente”. A senhora acabou por chamar outros profissionais, dizendo “está aqui uma cigana que já está a gritar que quer ser vista”. Marion respondeu que tinha um bilhete de identidade e um nome e que seu o nome não era “cigana”. Um médico apareceu e sorriu e disse para não se preocupar, que ia vê-la, e fê-lo de uma forma muito agradável.
Marion recorda outro exemplo. Ela estava a andar na rua com a mãe e uma senhora estava a alimentar o bebé na varanda e quando as viu disse: “Olha bebé, come, senão vem aí uma cigana que rouba bebés que não comem”. A mãe de Marion respondeu que os ciganos não roubam bebés e que seria melhor ter cuidado com a sua própria raça, que abusa das crianças. A sua mãe teve um discurso mais expressivo do que Marion, que gosta de resolver as coisas bem; defende-se quando é necessário, mas com a educação. Se a Marion estivesse numa situação de discriminação grave, chamaria a polícia.
Na sua cidade, acha que as pessoas não dão trabalho às pessoas de etnia cigana; toda a família se candidata a vagas com frequência e agenda entrevistas, mas nunca são chamadas. Há a ideia de que os ciganos roubam e não querem trabalhar, mas ninguém lhes dá trabalho. Alguns membros da família tiveram de mudar de cidade por causa disso, para arranjar emprego.
Marion acha que o trabalho é o mais importante. Ter um horário de entrada e saída, conhecer os direitos e deveres, é muito importante para a autoestima e autoimagem. Seria melhor trabalhar do que receber apoios. Até porque o dinheiro não é suficiente e leva muitas pessoas a cometer crimes ou a entrar em negócios obscuros, o que mais uma vez desacredita a sua imagem.
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